Fonte:
Agência Brasil
Brasília – Quase quatro meses após o acidente que matou pelo menos quatro
trabalhadores de um terminal do Porto de Santana, a cerca de 20 quilômetros de
Macapá (AP), dois funcionários continuam desaparecidos e as autoridades seguem
tentando identificar as causas do acidente. O deslizamento de parte do terreno
onde a empresa multinacional Anglo American armazena milhares de toneladas de
minério de ferro ocorreu na madrugada de 28 de março. O material caiu sobre o
píer flutuante onde atracavam os navios que transportam o minério vendido a
países do Oriente Médio, Ásia e Europa.
Os entulhos atingiram caminhões, guindastes, parte
do escritório da empresa e arrastaram para o fundo do Rio Amazonas seis
trabalhadores que carregavam uma embarcação com destino a China. Após o
acidente, todo o empreendimento foi interditado por órgãos como o Ministério do
Trabalho e Emprego, que avaliou que o local oferecia risco aos trabalhadores. O
Instituto do Meio Ambiente e de Ordenamento Territorial do Estado do Amapá
(Imap) multou a empresa em R$ 20
milhões, alegando que houve alterações graves na natureza.
Enquanto a mineradora, uma das maiores do mundo,
remove os destroços e tenta localizar os dois trabalhadores desaparecidos, as
autoridades continuam investigando as possíveis causas do acidente. Em um
relatório apresentado esta semana, o auditor fiscal do trabalho, Franklin
Rabelo, deslocado do Ceará especialmente para analisar o caso, aponta, entre
outras coisas, que a empresa não fez um estudo geotécnico para comprovar se a
área seria adequada ao armazenamento de minério.
Segundo o relatório do auditor, a empresa tem um
laudo sobre análise de risco, de 2007, e após essa data a mineradora passou a
armazenar todo o material mais perto da margem do rio para facilitar o
carregamento dos navios, sem, contudo, realizar novos estudos quanto à
estabilidade do talude e a consistência do solo. No acidente, foi justamente o
talude, uma contenção inclinada em forma de barranco de cerca de 7 metros de
altura, feita no próprio terreno, que desmoronou. O auditor também descarta a
hipótese que fenômenos naturais, como uma onda, tenha provocado o acidente,
assinalando que a onda que atingiu o píer decorreu do grande volume
de terra e minério que atingiu o Rio Amazonas.
Embora o píer continue interditado, impedindo a
empresa de recuperar as instalações destruídas e normalizar suas atividades, o
local onde o minério é descarregado, a chamada moega, já foi liberado. Com
isso, a empresa pôde voltar a receber o minério, parcialmente transportado e
embarcado em navios que passaram a usar o porto público administrado pela
Companhia Docas de Santana.
Segundo o chefe do Núcleo de Segurança da
Superintendência do Ministério do Trabalho, Omar Molina, a liberação total da
área, por enquanto, está descartada. “Ainda faltam algumas providências e
documentos que comprovem a estabilidade do local e a segurança dos
trabalhadores”, adiantou Molina. Na terça-feira (23), a empresa solicitou
autorização para construir uma esteira ligando a moega ao píer fixo, da década
de 1950, que existe no interior da área interditada. O pedido ainda está sob
análise.
Molina também confirmou que, em 2012, auditores
fiscais do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Trabalho Portuário e
Aquaviário já haviam identificado problemas com o empreendimento. Como não
participou da operação, ele evitou comentar se os 19 autos de
infração lavrados à época eram graves o bastante para
justificar a interdição da área, evitando assim o acidente fatal. A empresa
recorreu dos autos, que estão sob análise.
Por quase um mês após o acidente, homens do Corpo
de Bombeiros buscaram os seis trabalhadores desaparecidos. Apenas três
[corpos] foram resgatados quando a corporação encerrou as buscas, deixadas
sob a responsabilidade da Anglo American. “Não poderíamos ficar muito mais
tempo por lá, atendendo exclusivamente à empresa, que contratou mergulhadores e
todo o equipamento necessário, como guindastes e aeronaves, para continuar as
buscas e remover os destroços. Durante algum tempo continuamos só orientando os
trabalhos”, disse o chefe da assessoria do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel
Rogério André Ramos.
No começo de junho, mergulhadores contratados pela
mineradora encontraram uma ossada que, no final do mês passado, a Polícia
Técnico-Científica do Amapá (Politec) identificou como sendo de Pedro Coelho
Ribeiro, 35 anos. “A identificação foi bastante trabalhosa devido ao estado em
que estava a ossada. Só foi possível identificá-la por meio de exames
comparativos com o DNA do material fornecido pela filha da vítima”, comentou à Agência
Brasil o diretor da Politec, Odair Pereira Monteiro.
Mulher de Ribeiro, a professora Roseane dos Santos
Quintela disse à Agência Brasil que espera que os responsáveis
pela morte de seu marido sejam identificados e punidos. “Meu marido saiu de
casa para trabalhar e foi encontrado meses depois, morto. Eu, minha família, as
viúvas dos outros trabalhadores, estamos todos sofrendo à espera de respostas.
O que eu quero é que alguém seja preso”, comentou Roseane, sugerindo que órgãos
responsáveis por fiscalizar o empreendimento podem ter sido omissos.
Procurada ontem (25), a Anglo American ainda não se
manifestou sobre o assunto.
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